Viagem ao outro lado da noite é um desdobramento do processo de trabalho iniciado na série Paisagens Rotas. A materialidade da superfície, o peso e a espessura do papel dão lugar a um suporte mais fino, menos opaco, que se une a uma mudança na forma de desenhar e no material usado para aplicação e fixação do pigmento e do carvão. Os desenhos diminuem de tamanho, se tornam espécies de janelas para partes de paisagens ocultas. Evidenciam-se a presença mais forte das manchas no lugar de construção dos espaços.
O trabalho que era desenvolvido na imagem, na superfície do desenho, se expande para o objeto. Do objeto, se expande para a criação de um espaço que envolva o corpo: um lugar feito também de imagens que propõe sua constante construção e transformação. Um complexo de imagens, um espaço próprio da incerteza, da indeterminação e de suspensão da razão, para o qual o visitante é convidado a tornar-se parte integrante da construção. Através da expansão das possibilidades de montagem e das modificações das obras através de seu manuseio pelos visitantes, propõe-se a percepção da impossibilidade de um sentido único, final, a impossibilidade da certeza e da verdade absolutas.
São trabalhos que sugerem duas formas distintas de se olhar: de um lado, trazendo o observador para perto, propõe-lhe experimentar sua densidade, sua textura e a noção de parte do trabalho como um todo-reduzido; de outro, sugerem um olhar distanciado, para se contemplar cada trabalho em sua totalidade e, ao mesmo tempo, observar cada qual como fração possível de uma trama criada em conjunto com os demais.